O jovem Miguel Fernandes Brandão, de apenas 13 anos, morreu em novembro do ano ado por complicações de uma infecção bacteriana. Ele já estava quase um mês internado no Hospital Brasília, no Distrito Federal. O caso, porém, só foi divulgado pela família nesta terça-feira (18), em entrevista ao UOL.
“Moramos no hospital por 25 dias. Entrei com meu filho e infelizmente só saí com ele dentro de um caixão”, desabafou a mãe, Genilva Fernandes. Conforme a reportagem, Miguel começou com sintomas de sua já conhecida rinite alérgica, com espirros frequentes, na noite de 11 de outubro. Ele foi medicado e dormiu, mas acordou de madrugada com febre, amenizada com outro remédio.
Gosto ruim na boca
Já na segunda, dia 14, Genilva acordou de madrugada com os mesmos sintomas. “Pensei: ‘Miguel está gripado e peguei dele’. Deitei novamente e depois acordei para trabalhar de casa”, explicou. Ela acabou ficando na residência junto com o filho, e decidiu preparar um café da manhã mais reforçado, com carne para comer com pão de queijo e bolo de cenoura com chocolate.
No entanto, o paladar de Miguel também foi afetado e quase tudo tinha um “gosto ruim”, exceto a água. Pensando que poderia ser sinal da Covid-19, a mãe e o pai, Fábio Luiz Brandão, o levaram ao Hospital Brasília, no Lago Sul. Lá, uma médica disse que o gosto ruim era da secreção do nariz.
O casal, porém, duvidou e informou que o filho reclamava da garganta, sem conseguir engolir saliva, sempre cuspindo. “O nariz dele estava bem inchado, como nunca ficou antes em nenhum caso de alergia que ele já teve”, recordou Genilva. Miguel tomou remédio contra febre e foi liberado

Febre e fraqueza
Na mesma noite, a febre voltou, mas não ava com uso de medicação. Miguel ficou embaixo do chuveiro por um tempo, para que sua temperatura reduzisse, e só conseguiu dormir por volta das 5h de terça-feira (15). Ao acordar, estava com vômito, diarreia e fraqueza nas pernas. “Ele não conseguia andar do banheiro para a cama”, contou a mãe, acrescentando que o jovem precisou de uma cadeira de rodas.
A família retornou ao mesmo hospital, onde Miguel chegou com a pele amarelada, fraqueza e extremidades roxas. Conforme Genilva, uma outra médica que estava quase encerrando o plantão demonstrou preocupação e agilizou o primeiro atendimento. A profissional sugeriu um diagnóstico que, se confirmado, levaria Miguel à UTI. “Eu estava vendo meu filho desfalecido, na cadeira, de olho fechado, muito fraquinho”, lamentou a mãe.
Na troca de plantão, uma segunda médica assumiu o caso. O menino já tinha feito exame de sangue e depois um eletrocardiograma, que deu pequena alteração. “Ficamos no box do pronto-socorro, ele ainda com diarreia e vômito, eu ali limpando”, relatou Genilva. Posteriormente, ela notou que a boca do filho começou a ficar vermelha e, em torno de uma hora, a mancha se espalhou para o pescoço e desapareceu.
Em seguida, o corpo empolou, ficou cheio de carocinhos, e os linfonodos do pescoço incharam. A mãe disse que chamou a médica, mas ela apenas olhou, ou a mão pelos ferimentos e saiu. Com o resultado negativo do teste de Covid, a profissional sugeriu fazer o viral, em que um único exame avalia a presença de diferentes vírus. A coleta, porém, demorou.
“Quando dei por mim, já tinha trocado o plantão, e a médica saiu sem pedir o mapa viral, não falou qual horário ia sair e nem quem ia ficar com o caso do meu filho”, recordou a mãe. Pelo estado de Miguel, ela ficou na expectativa de ele ir para a UTI. O menino acabou sendo encaminhado para internação em quarto de adulto porque, segundo a equipe, não tinha vaga na pediatria.
“Fomos para o quarto por volta de 1h50, mas, enquanto isso, nenhum médico do plantão noturno foi ver meu filho, mesmo eu cobrando na enfermaria. O mapa viral não foi feito no dia 15 e amos a madrugada inteira com ele febril, meio acordados, com ele ando mal”, detalhou Genilva. A avaliação ocorreu somente na manhã de quarta-feira (16), com um novo médico também sugerindo um quadro viral.
A mulher, por sua vez, já tinha aberto uma reclamação na ouvidoria do hospital, sinalizando que o filho estava mal e que aguardava ir para a UTI. Uma médica chegou depois e reforçou a hipótese viral, incluindo gastroenterite, uma infecção intestinal. O tratamento seria “hidratação e medidas de e”. No prontuário, a profissional apontou que avaliou o paciente “devido à ansiedade materna” e que “explicou várias vezes o quadro”.

“Foi meu primeiro contato com ela. Ela não tinha visto meu filho, ela não fez nenhum exame do meu filho, e eu não posso questionar">