Um vídeo do depoimento prestado por Marcelo Alves, humorista preso em Curitiba (PR), traz detalhes chocantes sobre o assassinato de Raissa Suellen Ferreira da Silva, de 23 anos. No interrogatório, ele itiu ter inventado uma oferta de emprego em São Paulo para atrair a jovem, com quem tinha uma amizade, até sua casa, onde o crime foi cometido.
Raissa estava desaparecida há oito dias quando seu corpo foi encontrado em uma área de mata na cidade de Araucária, na Grande Curitiba. Segundo a polícia, a jovem morava na capital paranaense há três anos e havia comunicado à família que se mudaria para São Paulo, onde teria conseguido uma oportunidade de trabalho oferecida por Marcelo. No entanto, a promessa, segundo o próprio autor confesso, era falsa e feita com o intuito de levá-la até sua residência para se declarar.
O crime aconteceu no dia 2 de junho. No depoimento, prestado nesta segunda (9), Marcelo relatou que dias antes se encontrou com Raissa e mencionou que viajaria para São Paulo. Ela, inicialmente, recusou a ideia, alegando já estar empregada, mas voltou a procurá-lo mais tarde demonstrando interesse na tal proposta.
“Ela mandou mensagem, um áudio falando: ‘Aquele emprego, tá de pé? Quero ir com você. Se tiver de pé a gente vai. Posso ir amanhã, pode mandar a agem que vou amanhã’. Falei: ‘Amanhã não dá, pode ser na segunda-feira?'”, contou Marcelo à polícia, no depoimento obtido pelo g1.

A viagem foi combinada para a manhã do dia do crime: “Eu demorava responder porque eu não estava querendo ir, [estava] desistindo pra ir, sabe? Não tinha proposta de emprego, era mentira”.
Segundo o suspeito, ele teria buscado Raissa na casa onde ela morava com amigas, no bairro Portão, em Curitiba. As colegas ajudaram a colocar suas malas no carro e registraram um vídeo dela acenando de dentro do veículo. Depois disso, o humorista levou a vítima para almoçar e, em seguida, os dois foram até sua casa, onde o assassinato ocorreu. Veja:
Vídeo mostra ex-miss se despedindo de amigas pic.twitter.com/qxFGANtGTM
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De acordo com ele, o crime foi cometido após Raissa rejeitá-lo. Marcelo disse usou uma abraçadeira plástica para estrangular a vítima: “Eu me declarei pra ela: ‘Não tem São Paulo, não tem viagem, não tem emprego. Eu trouxe você aqui porque eu gosto de você, e me declarei pra você, estou me declarando agora, eu quero ficar com você’. Quando eu falei isso, ela falou: ‘Você é mentiroso, você disse que tinha emprego em São Paulo, você está mentindo. Como vou ficar com você? Seu gordo, feio, mentiroso, nojento’. Começou a gritar alto. Eu fiquei com muito ódio, muita raiva, perdi a cabeça, e aí aconteceu”.
Envolvimento do filho
Durante o depoimento, o humorista também revelou que contou com a ajuda do filho, Dhony de Assis, de 26 anos, após o crime. Segundo ele, o jovem foi até a casa a pedido do pai e participou do transporte do corpo até a mata onde foi enterrado. Marcelo nega que o filho tenha tido qualquer envolvimento direto no assassinato.
“Minha única participação foi só de dirigir o veículo, não quis nem ficar perto do local, esperei ele no carro. Ele tirou o corpo, ele que cavou o local. Eu não quis participar exatamente com nada”, disse Dhony à polícia. O jovem foi preso por ocultação de cadáver, mas acabou sendo liberado após o pagamento de fiança.

Contradições e investigação
Nesta terça-feira (10), a delegada Aline Manzatto afirmou que as provas reunidas até o momento apontam para um crime premeditado, contrariando a versão apresentada por Marcelo. Segundo ela, há várias inconsistências entre o que foi dito pelo acusado e os dados coletados pelos investigadores.
Ainda de acordo com a chefe de polícia, as ferramentas que Marcelo afirmou ter usado para ocultar o corpo de Raissa não foram encontradas pela polícia. Exames também indicaram a possibilidade de que a jovem tenha sido dopada, já que não havia sinais de defesa em seu corpo. Além disso, um laudo preliminar não confirmou que a causa da morte tenha sido o estrangulamento com a abraçadeira plástica, como relatado pelo suspeito.
Outro ponto considerado pela polícia é a motivação do crime. Conforme Manzatto, Marcelo demonstrou frustração após ter sido rejeitado por Raissa. “Por isso, a Polícia Civil a agora a tratar como feminicídio”, explicou.
O veículo utilizado pelo suspeito e o filho já ou por perícia e foi liberado. O corpo de Raissa também foi examinado e será enviado ainda nesta quarta-feira (11) para Paulo Afonso, na Bahia, cidade natal da jovem.

O que diz a defesa do acusado
O advogado Caio Percival, que representa Marcelo, declarou que o crime não foi planejado e que seu cliente agiu movido por “violenta emoção”. Ele destacou que o humorista está colaborando com as investigações. Percival também argumentou que ainda não há confirmação oficial sobre o uso da abraçadeira, pois o laudo de necropsia não foi finalizado. Segundo ele, o fato de o corpo ter permanecido enterrado por dias pode dificultar a conclusão da autópsia.
“Marcelo é réu primário, tem bons antecedentes, nunca pisou numa delegacia de polícia e infelizmente foi arrastado pelas barras da paixão a essa situação que foge, evidentemente, do normal. Nós temos uma causa de diminuição de pena que é a própria confissão e uma segunda causa de diminuição de pena que é o domínio de violenta emoção logo após injusta provocação da vítima, já que, em dado momento, houve uma discussão entre eles”, disse.
Sobre Dhony, o advogado negou qualquer intenção criminosa e afirmou que ele apenas respondeu a um apelo emocional do pai. “Movido por um apelo de natureza puramente paterna e afetiva, Dhony, ao atender ao chamado de seu pai, sentiu-se moralmente coagido a assumir a condução do veículo envolvido nos fatos ora apurados. Trata-se de uma atitude tomada sob forte pressão emocional, em um momento de extremo abalo e tragédia familiar”, concluiu.
Confira os depoimentos de Dhony e Marcelo:
Em depoimento, humorista confessou ter mentido sobre proposta de emprego para atrair miss antes de matá-la pic.twitter.com/x5Xng3j51s
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