Léo Lins fala pela primeira vez após condenação; assista

Humorista foi condenado a oito anos de prisão

O humorista Leo Lins divulgou um vídeo nesta quinta-feira (5) em que responde publicamente à condenação de mais de oito anos de prisão por piadas consideradas ofensivas contra minorias. A gravação foi feita na sala de sua casa e publicada nas redes sociais.

No vídeo, o comediante afirma estar falando como Leonardo de Lima Borges Lins, o indivíduo por trás da persona Leo Lins. Ele contesta a decisão da Justiça, critica a sentença e afirma que as falas em seus shows não deveriam ser interpretadas literalmente, pois fazem parte de uma apresentação cômica.

“Antes de me pronunciar, eu quis ler toda a sentença da juíza que condenou um humorista, no caso eu, há mais de 8 anos de prisão e uma multa de quase R$ 2 milhões. Esse vídeo não é de piada. Eu tô em casa com os meus gatos. Aqui a pessoa Leonardo de Lima Borges Lins e não o comediante Leo Lins. Uma persona cômica criada ao longo de anos que faz piadas ácidas, críticas e que sabe que nem todas as piadas são para todas as pessoas”, iniciou.

Lins argumentou que o humor é uma forma de arte e deve ser compreendido como ficção, com recursos como metáfora e ironia. Para ele, uma interpretação literal das piadas é equivocada. “Talvez nem todos saibam, mas o humorista num palco interpreta um personagem, uma persona cômica. Na construção do texto nós utilizamos figuras de linguagem, hipérbole, metáfora e ironia numa licença estética e, portanto, uma análise literal desse texto não se aplica na estrutura do cômico”, declarou.

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Ele também criticou o uso de informações da Wikipédia como parte da fundamentação da sentença: “Por que eu estou citando isso? Porque é de se esperar que uma sentença pesada como essa tenha um embasamento teórico igualmente profundo. Sabe qual foi um dos embasamentos teóricos da juíza que me condenou há mais de oito anos de cadeia? A Wikipedia”.

Léo Lins terá que pagar R$ 5 mil reais a Thaís por danos morais. (Foto: Reprodução/Instagram)
Léo Lins foi condenado a 8 anos e 3 meses de prisão, pela 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo. (Foto: Reprodução/Instagram)

Durante o vídeo, Lins citou trechos da decisão e fez comparações com situações fictícias e personagens. “Em um certo momento, a juíza fala: ‘Apesar de haver texto, edição, cenário, figurino e estúdio, estar em um palco parece-nos não se tratar de um personagem, e sim da pessoa a proferir discursos’. Eu te mostro a cabeça de um jacaré, o corpo de um jacaré, o rabo de um jacaré e eu pergunto que animal é esse? Você responde é um camelo. Aí não adianta mais argumentar”, apontou.

O comediante questionou os critérios adotados pela Justiça e comentou sobre os impactos que, segundo ele, decisões como essa podem ter sobre a sociedade. “Estamos vivendo uma das maiores epidemias dos últimos tempos, a da cegueira racional. Os julgamentos são feitos puramente baseados em emoção e ninguém quer mais ouvir o próximo, quer no máximo convencê-lo da sua própria verdade”, continuou.

Leo Lins também comparou sua situação a episódios de repressão a humoristas em outros países e apontou o que considera uma inversão de valores sociais. “Você pode falar, mas então você quer afirmar que jamais alguém pode ouvir uma piada e ter uma atitude de agressão física ou psicológica. Eu não tenho como afirmar, mas se a pessoa fizer isso, que ela responda pelo crime que ela cometeu. Eu não posso jogar ‘Street Fighter’, agredir alguém e colocar a culpa no japonês que fez o jogo”, refletiu.

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Ele ainda fez um agradecimento às pessoas que demonstraram apoio desde que a sentença foi divulgada: “Eu recebi milhões, milhares de mensagens. Confesso que foi acima da minha expectativa as pessoas que estão se posicionando a meu favor e claro, a vocês, as milhões de pessoas que acompanham o meu trabalho. Eu sempre falo que vocês são muito importantes para mim e me dão força para continuar seguindo em frente”.

Lins encerrou o vídeo compartilhando relatos de fãs. “Como eu sempre falo, a melhor piada do mundo sem alguém para rir, não tem graça. A comédia é feita para o próximo. Por isso eu espero retribuir tudo isso em risadas. Eu tenho fé que no fim vai dar tudo certo, até porque se rir virou crime, o silêncio virou regra”, concluiu.

Assista:

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Condenação

Léo Lins foi condenado a 8 anos e 3 meses de prisão, pela 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo, por proferir falas preconceituosas em uma apresentação, publicada em 2022 em seu canal no YouTube. O regime será inicialmente fechado, mas ainda cabe recurso. No show intitulado “Perturbador”, Lins ironiza temas como abuso sexual, zoofilia, racismo, pedofilia e gordofobia. Ele também cita pessoas famosas e inclui comentários jocosos a respeito de crimes e tragédias, como o incêndio da Boate Kiss.

A Justiça Federal apontou como “agravante” o fato de as declarações terem sido feitas em um contexto de descontração, diversão ou recreação, e destacou que o ato “estimula a propagação de violência verbal na sociedade e fomenta a intolerância”. Lins ainda terá que pagar uma multa equivalente a 1.170 salários-mínimos, em valores da época da gravação, e uma indenização de R$ 303,6 mil por danos morais coletivos.

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